Hoje, às 12h30 de um dia para lá de ensolarado e colorido de eutono, minha avô paterna tamara (mais conhecida como dona mara ou mamy - como nós a chamávamos e ela pedia pra escrever o nome com y) morreu no pró-cardíaco.
eu tinha acordado uma nove e meia da manhã e tinha ido pra missão da copacabana de dar a faxina de número 1 em nossa nova casa. estava tudo bacana. eu varri, recolhi folhas, levei o isopor e gelo pras bebidas, passei o rodo na minha sala, essas coisas.
lá pelas tantas, subi para secar meu tênis ao sol, porque ele estava encharcado. tirei um pé e liguei pra carol, que estava na lista de chamadas não atendidas. achei que ela queria meu carro emprestado. "domi, vou falar logo, a mamy se foi". curiosa a expressão que ela escolheu para me dizer.
e eu fiquei chorando e berrando sozinha, sem que as outras treze pessoas da casa se dessem conta. depois ligaram para o lelê e ele subiu. meu óculos estava no chão e ele estava chorando.
a mamy me levou pra frança quando eu tinha 9 anos. me levou por um tour na europa, depois de insistências minhas, quando eu tinha uns 15/16. eu fui pra amsterdam com ela. não obstante, fomos juntas pro red light district (acompanhadas da excursão obviamente). eu já carreguei muita mala pra ela. já deixei meus brinquedos na casa dela quando era pequena e meus primos chegavam e achavam que eram da casa e não meus. mas eram meus.
já passei umas duas, talvez três mini estadias com a mamy em nanterre, bairro do subúrbio parisiense que o irmão dela(tonton mony), que faleceu ano passado se não me engano, morava. eu perambulava por aquelas ruas cinzas sentindo um tédio enorme.
foi na casa dele que uma tarde eu fiquei trancada no quarto porque tinham uns cachorros histéricos fedorentos do lado de fora. e enquanto eu brincava com um joguinho de imãs que eu tinha ganhado, o sol entrava pela janela e mostrava a poeira do ar.
eu tinha certeza total e absoluta que ela não iria morrer. não dessa vez. as mulheres de nossa família são super resistentes. e como ontem vi um filme sobre o modigliani que tem a música dela com o papu, meu avô, na trilha, reproduzo a letra aqui. god bless her.
La vie en rose (Paroles: Edith Piaf)
Des yeux qui font baisser les miens
Un rire qui se perd sur sa bouche
Voilà le portrait sans retouche
De l'homme auquel j'appartiens
{Refrain:}
Quand il me prend dans ses bras,
Il me parle tout bas
Je vois la vie en rose,
Il me dit des mots d'amour
Des mots de tous les jours,
Et ça me fait quelque chose
Il est entré dans mon cœur,
Une part de bonheur
Dont je connais la cause,
C'est lui pour moi,
Moi pour lui dans la vie
Il me l'a dit, l'a juré
Pour la vie.
Et dès que je l'aperçois
Alors je sens en moi
Mon cœur qui bat.
Des nuits d'amour à plus finir
Un grand bonheur qui prend sa place
Des ennuis, des chagrins s'effacent
Heureux, heureux à en mourir